quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Outra Matéria do Jornal Português Publico

Democratas-cristãos Alemães Oferecem Apenas "Parceria Privilegiada" à Turquia
Por HELENA FERRO DE GOUVEIA, Frankfurt
Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2004

Com uma comunidade turca residente na Alemanha de cerca de 2, 5 milhões, há muito que a perspectiva de adesão de Ancara à União Europeia deixou de ser apenas matéria de política externa para se tornar num premente assunto interno germânico. Sintomático desta sensibilidade foi o cuidado deposto por Angela Merkel , líder da CDU, o maior partido da oposição alemã, em obter uma "quadratura do círculo", por outras palavras , declinando de forma categórica o cenário da adesão, mas abrindo as portas a uma "parceria privilegiada" entre este país e a União Europeia.

Merkel, que se deslocou ontem à Turquia, numa viagem de dois dias -antecipando-se quase uma semana à visita do chanceler, Gerhard Schroeder, - transmitiu ao primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, o seu conceito de "terceira via" europeia, tendo este sido prontamente rejeitado pelo seu anfitrião. "Tal coisa não existe para a Turquia, nem pode ser considerada", disse Erdogan numa conferência conjunta com a dirigente da CDU. No final deste ano a UE decidirá, ou não, fixar uma data para o início das negociações de adesão com a Turquia, isto 41 anos decorridos sobre o acordo de associação.

A visão de uma bandeira de um país muçulmano a flutuar ao lado da de países cristãos é algo que divide tanto os estados-membros da União, como a classe política alemã e a própria CDU. Até à pouco tempo Ângela Merkel tinha evitado uma tomada de posição clara sobre esta questão, porém algumas horas antes de partir para a Turquia afirmou , numa entrevista ao canal público ZDF, que "tendo em conta as diferenças económicas , tendo em conta as muitas diferenças políticas, ainda há um longo caminho a percorrer". Para além disso, a dirigente democrata-cristã sublinhou que se já serão extremamente complexas as discussões sobre as perspectivas financeiras para 2007-2013 imagine-se " que a isso se somavam 25 milhões de agricultores turcos".

"Devemos ser honestos com a Turquia" , declarou ainda Merkel, frisando que a única perspectiva que de facto se pode oferecer ao país seria a de uma "parceria privilegiada". Esta visão é partilhada por Hans-Gert Pöttering, presidente do PPE, o maior grupo parlamentar em Estrasburgo. Num comunicado distribuído ontem aos jornalistas, Pöttering, afirma que " a UE tem de, em primeiro lugar completar a integração dos dez novos países que no dia 1 de Maio se tornarão membros . A capacidade de absorção da UE está no limite, em particular tendo em vista um país tão grande como a Turquia".

No passado fim-de-semana, o presidente da CSU ( partido gémeo da CDU, existente só na Baviera), Edmund Stoiber, já em pré-campanha para as europeias, afirmou " que não faz sentido uma UE que abranja parte da Ásia". Declarações que irritaram a diplomacia turca e levaram o embaixador da Turquia na Alemanha , Mehmet Ali Irtemcelik, a advertir os políticos para deixarem o seu país de fora da polémica eleitoral.

"Nós conhecemos as regras do processo de negociação e sabemos que ainda precisaremos de anos até uma adesão" disse o diplomata ao "Berliner Zeitung" . "Também a opinião pública dos países da UE precisa de tempo para se habituar a ideia de uma adesão da Turquia. O Parlamento Europeu não se irá certamente ocupar durante a próxima legislatura com esta questão", acrescentou .

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