Chechênia enterra Kadyrov e se prepara para mais guerra
Juan Antonio Sanz
MOSCOU - A Chechênia enterrou hoje Akhmad Kadyrov, seu presidente assassinado no atentado que no domingo semeou o terror em Grozni, e se preparou para um iminente recrudescimento da guerra ao perder Moscou a mão de ferro na região. Milhares de soldados russos e milicianos locais foram deslocados nas principais estradas chechenas ante o temor que o vazio deixado pela morte de Kadyrov anime aos rebeldes a lançar uma ofensiva quando ainda reina a confusão nesta república.
As tropas estavam também encarregadas de garantir a segurança dos dirigentes chechenos e de outras regiões russas que acudiram ao enterro de Kadyrov, que morreu, junto a outras seis pessoas, no atentado que ontem tingiu de sangue Grozni, a capital da Chechênia. Às seis pessoas, incluído Kadyrov, que o Kremlin reconheceu ontem como vítimas mortais do ato terrorista se acrescentou hoje o falecimento de um dos feridos que estavam hospitalizados.
Uma bomba explodiu na manhã de domingo sob a tribuna de honra do estádio Dínamo de Grozni, onde Kadyrov e a cúpula político-militar da Chechênia presidia os festejos do 59º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista. A explosão também matou o presidente do Conselho de Estado da Chechênia, Hussein Isáyev, e causou gravíssimos ferimentos ao comandante-em-chefe das tropas conjuntas russas no Cáucaso Norte, Valeri Baránov, que hoje experimentou certa melhoria no hospital onde está internado.
Ao sepultamento de Karímov, que teve lugar em Tsentorói, no sudeste da Chechênia, assistiram milhares de pessoas, entre seguidores, dirigentes de outras regiões e repúblicas russas, e autoridades islâmicas. O nome de Kadyrov e sua lembrança como presidente e antigo mufti (líder espiritual) da Chechênia se repetiu nas principais mesquitas da Rússia, nas quais se ressaltou sua capacidade para atrair a alguns dos rebeldes chechenos mais obstinados na luta armada contra Moscou.
O Conselho de Estado checheno fez também uma chamada a união de todos os chechenos contra aqueles que tentam impedir a recuperação da Chechênia. As autoridades responsabilizaram do ato terrorista aos rebeldes fundamentalistas que, há quase cinco anos, combatem às forças federais e as milícias chechenas pró-russas nesta segunda guerra da Chechênia.
Os principais meios de comunicação russos comentaram hoje o difícil tarefa que tem ante si o Kremlin para encontrar um substituto para Kadyrov, que, apesar de haver sido odiado por muitos chechenos, era respeitado por sua força militar e pelas alianças que conseguiu tecer em seu entorno. ''Nos últimos quatro anos ficou claro que Kadyrov era o único político cuja autoridade e força podia unir essa parte da sociedade chechena que não se opunha a viver em paz com Moscou'', publicou o jornal digital Gazeta.ru.
Um dos maiores temores em Moscou é que Sergei Abramov, primeiro-ministro da Chechênia que foi nomeado ontem por Moscou presidente interino, não possa se fazer respeitar pelos clãs chechenos mais belicosos enquanto se convocam eleições e se procura substituto para Kadyrov. Por isso, uma das primeiras medidas adotadas por Abramov (que conta com o inconveniente de ser russo em uma república onde os laços de sangue são muito importantes) foi escolher hoje como primeiro vice-primeiro-ministro Ramzán, o filho de Kadyrov e comandante de uma guarda pretoriana de quase 10 mil milicianos.
No entanto, Ramzán, que presidiu junto a seu irmão Selim Jan as exéquias de seu pai em Tsentoroi, não conta com o respeito que tinha Kadyrov, daí o risco que os esforços deste para aglutinar aos principais clãs se quebrem. Desde sua eleição como presidente nas eleições de outubro de 2003, Kadyrov conseguiu que deixassem as armas pelo menos quatro dos principais caudilhos militares chechenos até então leais a Aslán Maskhádov, o principal líder separatista.
Na semana passada, alguns membros do governo de Kadyrov tinham assinalado que a intenção deste era oferecer a cabeça de Maskhádov ao presidente russo, Vladimir Putin, como mostra de boa vontade e para limar as diferenças com o Kremlin. A eliminação de Maskhádov, presidente checheno deslegitimado por Moscou, era o objetivo da operação lançada há poucos dias por Ramzán nas montanhas; sua morte ou captura teria permitido a Kadyrov pedir mais concessões no autogoverno da Chechênia.
Agora, no entanto, o assassinato de Kadyrov não só dá alívio aos separatistas, mas, além disso, pode obrigar Moscou a lançar ofensivas militares a grande escala, caso que alguns dos principais chefes chechenos decidam voltar a tomar as armas.
Agência EFE
segunda-feira, maio 10, 2004
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