quinta-feira, maio 27, 2004

Somos alunos.
Estamos matriculados regularmente, freqüentamos as aulas, passamos nas provas. E nos encontramos no meio do nosso caminho universitário.

Não necessariamente somos estudantes. O Pacto está feito: os livros estão ai, descansando languidamente nas prateleiras de nossas estantes ao sabor do ar condicionado que o envolve, quando não toma banho de sol na varanda da biblioteca. Mas estes foram feitos para serem olhados, meramente consultados – pois logo no primeiro dia de aula todos os professores nos “tranqüilizam” avisando que poderemos passar direto em suas matérias apenas com as anotações em caderno, nos poupando o extenuante trabalho de pensar. Algumas vezes, quando o “mestre” resolve faturar alguns trocados, adota-se um livro – o escrito pelo próprio professor. De qualquer forma, sempre há a necessidade da adoção de alguma corrente teórica - e assim, os cadernos se tornam o resumo de um determinado livro. Tudo o que temos que fazer é decorar essas anotações, tirarmos, 10, fazer a alegria da família, constituir um bom CR., arranjar um bom emprego e dormimos todos os dias em paz com nossas consciências.

E sendo assim somos escravos. Não temos direito ao básico: a discordar de uma teoria ou corrente ideológica. Pois quando nos apresentam uma tese como sendo a verdade, não há o que contestar – quem contestaria a Verdade? Aceitamos placidamente o que nos é dito – e a Verdade é inaplacável com seus contestadores: tasca-lhes um zero, reprova-os, tenta marcar suas vidas com o símbolo dos perdedores.

Somos todos alunos. Mas nem todos são estudantes e nem todos são cordeirinhos. Ainda assim, sempre haverá a maioria esmagadora e a minoria combativa. Não lutamos pela razão, mas pelo direito de termos idéias próprias e sermos respeitados por isso.


Texto antigo escrito por mim, mas parece atual....

Um comentário:

Anônimo disse...

Ana, eu tenho que concordar contigo! Ademais, o fato de reproduzir as meras opiniões dos nossos professores não é só uma questão de burrice de momento, mas é fruto de uma prática reiterada de preguiça e de ortodoxia. Na História, por exemplo, os estudantes pegam toda aquela fantástica teoria crítica de Karl Marx quanto ao capitalismo e, ao invés de fazerem uma releitura à luz do contexto histórico em que se acham insertos, o que obriga a prática do pensar, preferem se satisfazer com os lugares-comuns e com as categorias já saturadas da teoria, que nem sempre explicam à realidade. Da mesma forma, o positivismo kelseniano: ao mesmo tempo que ele nos dá uma visão sistêmica de Direito, este nos dá a falsa idéia de que o direito é transparente e se auto-sustenta, enquanto ciência pura, ignorando os saberes histórico, filosófico, antropológico, político e sociológico, contribuintes a uma visão crítica ao Direito, e reduzindo-o a uma máquina. Essa visão caduca o torna inacessível a quem em verdade deveria se destinar: à sociedade, que passa a ter uma visão errada quanto às idéias de lei e de Direito. É incrível a quantidade de pessoas que eu vejo na Faculdade, que repetem a letra fria da lei de modo acrítico! Só para completar, a verdadeira educação, a verdadeira liberdade do Homem, está em não somente recusar aquilo que é pronto e estabelecido, enquanto convenção, mas construir uma nova visão de mundo, fruto de sua autonomia! Eu comecei a constatar isso quando da última vez que eu estive no CEBRI anteontem, quando o relator falou sobre o caducado sistema aparente de igualdade jurídica e soberana dos Estados, modelo este implementado desde a Paz de Westfalia! Para sociedades integradas, onde as fronteiras físicas estão diluídas, um novo marco legal deve ser pensado, mas isto tem que ser feito com base numa Sociedade Internacional orgânica e estruturada! Nisso, a própria concepção especializada de ciência tem que ser alterada, e o saber deve ser construído não só de forma eclética, mas transdisciplinar! Para mim, essa seria a chave da Grande Transformação! Como implementá-la, eis a questão! Aqui quem falou foi José Octavio Dettmann, estudante de Direito da Universidade Federal Fluminense!