Obama deve anunciar publicamente interesse no petróleo brasileiro, diz analista
WASHINGTON - Ao anunciar sua primeira viagem à América Latina, na última terça-feira, durante discurso do Estado da União, no Congresso, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, confirmou o Brasil como principal interlocutor na região e, segundo analistas, deve mostrar publicamente o seu interesse no petróleo brasileiro. Pelo menos é o que acredita Riordan Roett, diretor do Programa América Latina da Universidade Johns Hopkins. "Esta seria uma direção geopolítica muito importante para afastar-se da dependência do petróleo venezuelano", explica.
Mas a aproximação não será fácil, adverte Roett, já que o Brasil continua ganhando peso econômico no cenário mundial, tem a própria agenda diplomática e comercial e pretende assumir o papel de porta-voz do G20 (o grupo de países emergentes). "Os contornos de nossa política estrangeira não vão mudar radicalmente", explicou em Bruxelas o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota.
Mas Obama não deve temer as discussões com a presidente Dilma Rousseff, levando em consideração as alternativas da região, como o venezuelano Hugo Chávez ou a Bolívia, onde nem sequer há um embaixador americano.
"O governo Lula fez durante dois anos com que para Estados Unidos fosse realmente difícil abrir um debate com o Brasil", explicou Riordan Roett.
A Casa Branca, que ainda tem uma divergência clara com a diplomacia brasileira sobre como tratar o Irã, aposta em virar a página e tentar uma aproximação direta com Dilma Rousseff, considerada mais pragmática que Lula. A secretária de Estado, Hillary Clinton, fez uma visita relâmpago a Brasília para assistir à posse da primeira presidente na história do Brasil.
O Brasil por seu peso geoestratégico, Chile pelo êxito econômico e El Salvador pelos desafios que o crime organizado representa para a região são três maneiras de demonstrar os eixos da diplomacia americana na região, explica Michael Shifter, diretor do Centro Diálogo Interamericano.
Shifter lembra ainda que o governo dos Estados Unidos é o advogado de maior peso de Honduras para que um dia o país possa retornar com todos os direitos à Organização dos Estados Americanos (OEA), algo que o Brasil prefere ignorar.
Além disso, o nível de preocupação com a insegurança na América Central cresceu muito em Washington e, assim, uma visita de apoio a um governo (El Salvador) que está apresentando novas propostas é uma boa mensagem, explica Shifter.